Trabalhadores são achados comendo e dormindo junto com porcos no Piauí
Situação degradante análoga à escravidão ocorria no Norte do estado. Trabalhadores faziam o corte da palha da carnaúba em propriedades privadas.
Trabalhadores foram encontrados dormindo junto com porcos durante uma fiscalização do Ministério Público do Trabalho no Piauí. A situação degradante análoga à escravidão acontecia em alojamentos de cidades na região Norte do estado, com trabalhadores que faziam o corte da palha da carnaúba em propriedades privadas.
"É uma situação que desconfigura totalmente a dignidade do ser humano, transforma o ser humano em animal também", afirmou o procurador do Ministério Público do Trabalho, José Wellington Soares.
Foram visitados os locais de trabalho de 160 pessoas e somente em uma localidade, onde 30 pessoas trabalhavam, a situação era regular.
Trabalho de menores
“Nas demais [localidades], a situação era de total precariedade. Três adolescentes de 14, 15 e 16 anos foram encontrados nesta situação na proximidade da Praia do Arrombado, no Litoral do Piauí", disse Cardoso.
Segundo ele, os adolescentes são sobrinhos do contratante e não usavam nenhum tipo de proteção no trabalho."Calçavam chinelos e sequer usavam luvas. O corte da palha de carnaúba é uma atividade proibida para menores de 18 anos por ser perigosa", afirmou o procurador.
Ainda de acordo com Cardoso, também foram encontradas pessoas trabalhando sem equipamentos de segurança e proteção individual e sem carteira assinada. As refeições eram servidas em latas, ao relento, e os trabalhadores comiam no chão próximo a fezes de vaca.
Em um dos locais visitados, a água servida aos trabalhadores era guardada em toneis que antes armazenavam agrotóxicos – e que não podem ser reutilizados por risco de contaminação.
Força-tarefa
Os flagrantes aconteceram durante a execução do Projeto Palha Acolhedora, que aconteceu entre os dias 20 e 24 de julho.
Para o auditor fiscal da Superintendência do Trabalho e Emprego Rubervan do Nascimento, a situação encontrada pela fiscalização é muito distante do que determina a lei trabalhista, por isso serão responsabilizados todos os envolvidos na cadeia produtiva da cera de carnaúba.
“A cera de carnaúba está sendo vendida para o exterior porque parte dela é usada na indústria da computação, por este e outros motivos não vamos deixar que esta produção aconteça como era nas décadas passadas. Existe uma cadeia produtiva que deve e vai ser responsabilizada”, afirmou.
No entendimento do Ministério Público do Trabalho, até mesmo os atravessadores e as indústrias de beneficiamento podem ser responsabilizados judicialmente por obterem lucro numa atividade que, segundo o procurador, viola os direitos fundamentais dos trabalhadores.
O MPT recomendou aos arrendatários que paralisassem as atividades imediatamente e procurassem o órgão para regularizar a situação dos trabalhadores. Serão instaurados inquéritos civis contra todos os exploradores e proprietários das terras onde ocorre a exploração.
14 Comentários
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Como sempre "O Globo" omite os nomes dos proprietários das terras onde pesoas são escravizadas. Por quê? continuar lendo
Pode ser que seja algum político aliado e não quer incorrer em reincidência...! continuar lendo
A situação pode ser degradante, mas não é escravidão. Se assim fosse, por que parentes estariam trabalhando nesta atividade? continuar lendo
David, dá uma lida na doutrina jurídica sobre "Condição análoga à de escravo".
http://www.ambito-jurídico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11183&revista_caderno=3 continuar lendo
e não sabiam diferenciar se eram homens ou eram porcos ! continuar lendo
Excelente referência a George Orwell. Obra fantástica e infelizmente ainda precisa. continuar lendo
Escravidão ou não, o fato é que isso é um absurdo. O problema é: e depois? Retiram-se os trabalhadores de lá e colocam onde? E os adolescentes? E como sempre, os nomes são ocultados. Como rebelarmos? Absurdo, absurdo e absurdo. continuar lendo
Sabe-se que o numero de fiscais não são o suficiente. Mas os poucos da região sabem exatamente onde está o problema bem como as autoridades locais. Omitem nomes, mas com certeza são gente muito conhecida na região ou eles iriam simplesmente aparecer com o dinheiro no bolso ou alguma situação onde mostram que são bem de vida. O pior cego é aquele que não quer ver. Mas temos um ponto a favor, alguns dos "ricos" não terão dinheiro todo tempo, não terão sua saúde eterna, até o fim dos seus dias e quando morrerem vão para o mesmo lugar que esses que são suas vitimas. Só não venham perguntar: "Oque fiz para merecer?" (eles saberão) continuar lendo